domingo, 10 de setembro de 2017

Como escapamos a Cristo

Quatro ensinamentos de Jesus que seus seguidores (quase) nunca tomam seriamente



Publicado originalmente em 19 de Junho de 2014, por Brandan Robertson em

Não é nenhum segredo que aqueles dentre nós que afirmam seguir Jesus continuamente não conseguem viver o modo de vida de nosso Rabi. Ser um discípulo de Jesus é uma jornada vitalícia para nos conformarmos na imagem e modo de vida que Jesus ensinou. No entanto, com muita frequência, os seguidores de Jesus escolhem ignorar descaradamente algumas das instruções mais claras de nosso rabino e obscurecer elas com teologia vaga para que possam sair do alcance Dele. Outras vezes, os seguidores de Jesus são ensinados com idéias explicitamente contrárias às palavras simples de Jesus e depois passam suas vidas obedecendo as instruções que receberam em vez dos mandamentos de Jesus.

Embora acabemos num lugar de desobediência, todos nós que afirmamos ser seguidores de Jesus lutamos para obedecer os mandamentos de nosso Senhor. Um dos períodos mais transformadores da minha fé foi quando gastei um tempo para reler os Evangelhos do Novo Testamento e me reencontrar com o próprio Jesus, nas suas próprias palavras. Ao estudar as palavras de Jesus, descobri que muito do que Ele pediu a nós como seus discípulos é incrivelmente claro e, no entanto, era muito novo para mim. Eu nunca tinha ouvido isso na igreja ou na escola dominical. Até realmente ouvi alguém ensinar exatamente o oposto das palavras de Cristo. Foi durante aquela estação da minha vida que eu fiz um inventário de como eu vivi, o que eu acreditava e alinhava com a pessoa e os ensinamentos de Cristo. Minha fé se transformou radicalmente para melhor.

Abaixo, criei uma pequena lista de 4 ensinamentos claros de Jesus que a maioria de nós evangélicos nunca ouviu, se recusa a reconhecer ou acredita exatamente no oposto. Espero que, relançando esses ensinamentos de Cristo, você se inspire, como eu, a retornar aos Evangelhos e remodelar sua fé e vida. Prepare-se e medite, porque o que Jesus diz é bastante ousado e potente. Isso abalará sua fé!

1. Jesus, não a Bíblia, é a Palavra viva e ativa de Deus que traz a vida*

Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida. (João 5.39)

A vida cristã está fundamentalmente enraizada na realidade de que Jesus Cristo está vivo e ativo. Ele interage conosco no dia-a-dia e deseja que cultivemos um relacionamento íntimo com ele. Quanto mais em comunhão com o Espírito de Cristo, mais estamos expostos à vida e verdade, e mais somos capazes de compreender. No entanto, para muitos evangélicos, confiamos mais na Bíblia do que no Espírito vivo de Deus dentro de nós. Tememos que seguir o Espírito possa levar a confusão e subjetividade, e por isso arraigamos nossa fé na Bíblia. O problema é que uma fé que está enraizada somente na Escritura não é sustentável. Ele vai secar e murchar. Enquanto a Bíblia é um guia importante e autêntico para a fé e a prática cristãs, não é o fundamento ou o centro da nossa fé - Jesus é. E se realmente acreditamos que ele está vivo, também devemos ter fé de que interagir com ele produza a vida espiritual dentro de nós. Ele é a Palavra Viva a quem podemos pedir a qualquer coisa e esperar, na fé, para receber e ser respondido. Às vezes ele falará através da Escritura. Outras vezes ele falará através de nossos amigos e familiares. Outras vezes, ele encontrará formas únicas e especiais para se revelar a nós mesmos. Mas, para manter uma fé viva, não devemos fazer da Bíblia o nosso substituto da comunhão com a Palavra de Deus Viva. Estudar a Escritura é valioso, mas nada é tão valioso como cultivar um dia a dia com o Deus encarnado.

2. A única maneira de entrar no Reino dos Céus é realizando a vontade de Deus.

Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. (Mateus 7.21)

Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: "Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? " "O que está escrito na Lei? ", respondeu Jesus. "Como você a lê? " Ele respondeu: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’". Disse Jesus: "Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá". (Lucas 10.25-28)

"Nós somos salvos pela fé sozinha, não os trabalhos!" Esta é uma frase protestante muito popular. A doutrina da sola fide foi desenvolvida pelos Reformadores em resposta aos ensinamentos corrompidos das Igrejas Católicas Romanas que surgiram no século 16, de que se poderia ganhar o favor de Deus e diminuir os anos no Inferno ou Purgatório, dando dinheiro para a Igreja ou fazendo atos de penitência.

A intenção da sola fide era muito boa - corrigir o erro de que nossa salvação poderia ser obtida ou que a graça de Deus poderia ser manipulada. Mas, como a maioria das doutrinas formuladas em resposta à doutrina de outro grupo, ela foi muito longe. Um dos ensinamentos mais claros em todos os quatro evangelhos é que o caminho para entrar no Reino de Deus é através da vida em obediência à Lei de Cristo. Jesus faz declarações muito claras que condenam aqueles que pensam que serão salvos porque acreditam nas coisas certas ou fazem os rituais religiosos certos. Ele responde a pessoas que acreditam que são religiosas e merecem o céu ao dizer que a religiosidade externa é detestável para Deus e a única coisa que Deus deseja é que eles exercitem sua fé obedecendo o mandamento de Deus - fazer justiça, amar a misericórdia e andar humildemente (Miquéias 6.8).

Jesus diz que se alguém afirma estar certo com Deus, mas não serve os pobres, os necessitados, os oprimidos, os marginalizados, os doentes e os pecadores, então não tem relação com Deus. Não importa o que eles proclamem com seus lábios. Não importa o quão religiosos eles possam aparecer. Jesus diz que aqueles que não obedecem não terão parte em seu Reino. Ele deixa muito claro que o caminho para "herdar a vida eterna" é através do amor a Deus e ao próximo. Não é surpreendente, então, quantos cristãos de hoje foram ensinados que a salvação vem através da crença correta em vez da prática correta? Esta é uma mensagem fundamentalmente contrária às palavras de Jesus. E ainda mais para o seu irmão Tiago, que diz: "Você vê que uma pessoa é justificada pelas obras e não apenas pela fé" (Tiago 2.24).

3. A condenação não é o estilo de Jesus.

"Eu não venho para condenar o mundo, mas para salvá-lo." (João 3.17)

"Eu também não te condeno. Vá e não peques mais." (João 8.11)

Vários pregadores evangélicos modernos passam muito tempo falando sobre as pessoas a quem Deus se opõe e quem Ele condena. Eles falam sobre mudar de uma posição de condenação para uma posição de Graça através da crença nas coisas certas sobre Jesus. Muitas vezes falam sobre aqueles que discordam ou vivem contrários à sua compreensão do que é "justo" como aqueles que Deus condena. Mas examinamos os ensinamentos e a vida de Jesus, encontramos que Ele não só levou amizade, mas amor e afirmação para algumas das pessoas mais vis e desprezadas pela sociedade. Ele até ofendia os líderes religiosos que as condenavam por seus pecados.

Na conversa de Jesus com o rabi Nicodemos em João 3, Cristo explica que é sua missão resgatar o mundo e não condenar. No caso em que uma mulher é pega no ato de adultério e é levada afora para ser apedrejada por oficiais religiosos (como a lei exigia), Jesus pára a condenação e proclama liberdade e perdão à mulher. É claro que Jesus não age através de condenação. Em vez disso, parece que Cristo se esforça para restaurar a humanidade das pessoas mais quebradas e perversas; que sua paixão é ver os fracos, doentes e quebrados se tornam fortes, saudáveis e inteiros em seu Reino. Ele gasta muito pouco tempo (quase nenhum) dizendo aos pecadores por que eles estão errados ou falando palavras de condenação, mas praticamente sempre mostra amor e estende Sua graça aos mais prejudicados.

Talvez nós evangélicos, conhecidos pela condenação de grupos dos quais discordamos, pudéssemos aprender algo de Jesus.

4. Você deveria se sacrificar e falar palavras de bênçãos para aqueles que não concordam com você. 

"Ame seus inimigos e abençoe aqueles que o perseguem" (Mateus 5.44)

Parece que toda semana há uma nova grande controvérsia dentro da Igreja. Na maioria das vezes, a situação gira em torno de um grupo de cristãos em desacordo com outro e, em seguida, estes vão à Internet para escrever mensagens caluniosas sobre o outro. Quando não há brigas declaradas, os Cristãos se envolvem em guerras culturais, trabalhando para derrotar aqueles de quem discordamos política e socialmente, pintando-os como monstros sem almas.

Mas essa resposta é absolutamente contrária ao caminho de Jesus. Ele chama Seus seguidores a amar as pessoas de quem eles discordam, a abençoar eles quando tudo o que realmente queremos fazer é maldizê-los. Não importa qual seja a situação ou o tipo de inimigo, os Cristãos são chamados a abençoar as pessoas que mais nos feriram. Isso inclui batalhas teológicas, desentendimentos políticos, guerras nacionais e conflitos pessoais. Os Cristãos são chamados a uma posição radical de não-violência e perdão, graça e até benção aos inimigos. Não há como contornar isso.

Quando os cristãos optam por ignorar esses ensinamentos claros, nossa hipocrisia é óbvia para o mundo todo. O famoso comediante ateu Bill Maher, certa vez, satirizou bem a recusa dos Cristãos em obedecer os ensinamentos de Jesus:

“Agora, por quase dois mil anos, os Cristãos folheiam a Bíblia para tentar descobrir como amar ao próximo pode significar odiar seu vizinho e como dar a outra face pode significar comprar armas, até lasers espaciais. ... Jesus tem falas como não pagar o mal com o mal e não se vingar de quem te incomoda. Realmente, está escrito nesse livro que você segura enquanto grita contra as pessoas gays.”

Pode ser difícil de digerir, mas Bill Maher está 100% correto. "Se você ignora todas as coisas que Jesus lhe mandou fazer, você não é cristão".

O objetivo deste texto é encorajar aqueles dentre nós que afirmam ser seguidores de Jesus a reexaminar como vivemos nossas vidas e praticamos nossa fé. É fácil ficar atrapalhado no fluxo dos acontecimentos e não reconhecer o quão longe estamos da praia, para onde nós fomos carregados. As palavras de Jesus são bastante claras, mas, muitas vezes, em nosso zelo por nossa fé, nos afastamos do básico. Eventualmente, acabamos vivendo de uma maneira que acreditamos que é honrar a Deus, mas é realmente contraditório com tudo o que Ele nos ensinou.

Nesta publicação, ofereci apenas quatro exemplos. Há centenas de ensinamentos contidos nos 4 Evangelhos. Ensinamentos que, se os observássemos, colocariam nossas vidas e o mundo de cabeça para baixo, para a glória de Deus e para o bem de todas as pessoas. O que a Igreja como um todo e os evangélicos em particular necessitam desesperadamente nesta Era é um retorno aos ensinamentos simples de Jesus. Precisamos estar dispostos a deixar de lado os debates teológicos e os meandros, nos concentrar em simplesmente ler, conformar e obedecer a vontade de Cristo, tanto como revelado nas Escrituras quanto como conduzido pelo seu Espírito. O mundo está desejando ansiosamente encontrar Jesus através de nós e por muito tempo nós estamos dando-lhes um truque barato que fazemos sob Seu nome. Mas é claro para todos que o Cristianismo hoje é quase totalmente separado dos ensinamentos de Jesus Cristo.**

Minha oração é que todos nos voltemos para o nosso Salvador ressuscitado e busquemos seguir de forma autônoma seus mandamentos. Estou convencido de que o caminho de Jesus é a única maneira de curar nosso mundo quebrado. Estou convencido de que toda a terra está gemendo enquanto espera que homens e mulheres tomem suas cruzes e sigam o caminho da redenção. Estou convencido de que quando aqueles de nós que nos chamamos de "Cristãos" se reorientarem em Jesus, o poder de Deus fluirá através de nós de uma maneira sem precedentes e milagrosa que trará a salvação até os confins da terra. Ah, como anseio por esse dia!

"Aqueles que não estão seguindo Jesus não são seus seguidores. É simples assim. Seguidores seguem, e aqueles que não seguem não são seguidores. Seguir Jesus significa seguir Jesus em uma sociedade onde a justiça governa, onde o amor forma tudo. Seguir Jesus significa tomar seu sonho e trabalhar para isso". (Scot McKnight)

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* Muitas críticas a esse texto surgiram depois que foi publicado. O cerne delas está em que ele aparentemente separa as Escrituras da Palavra de Deus ou de Jesus. De fato, uma fé baseada no Livro é uma filosofia de vida, não uma religião! Como ter uma vida religiosa trata-se de um debate teológico antigo e pertinente pois, rigorosamente falando, Jesus tratou de problemas ocorridos por volta de 30 d.C. Não somos mais chamados a apedrejar mulheres adúlteras, ou para escolher a quem pagar nossos impostos. As acusações de não-Cristãos não são mais infundadas. Temos mais de 2000 anos de história desde então, com acontecimentos lindos e pavorosos ligados à fé. Há os Cristãos que tentam achar formas de encaixar os acontecimentos relatados na Bíblia nos dias atuais, mas há também os que atentam para essa história as pessoas nela e usam ela como base para suas decisões. Não são menos Cristãos por isso! E se pensarmos que os 1os Cristãos não tinham de fato Escrituras além da Torá judaica, eles se baseavam muito em sonhos, visões e profecias para suas ações. Também não são menos Cristãos por isso! Embora os 3 grupos (vou chamá-los aqui de Escritura, História e Visionários) obviamente vejam problemas sérios uns nos outros e até não considerem Cristãos os dos outros grupos, o Cristianismo não pode se separar de Jesus a ponto de que nem ao menos levemos em conta aquele famoso dito “o que Jesus faria?”.

Todos os grupos têm pontos positivos e negativos quanto a isso. Os Escritura têm a base do que aconteceu com Jesus presente, mas noutra situação, noutro tempo. A Bíblia é útil se pudermos fazer extrapolações a partir dela, mas são extrapolações. Os História têm as autoridades eclesiásticas atuais para se apoiar, que possivelmente são pessoas sábias. Mas possivelmente também defendem interesses humanos, com visões humanas enviesadas. Os Visionários têm supostamente uma comunhão pessoal com o Espírito Santo e Ele dirá o que fazer. Acreditamos no Espírito Santo! Mas nada prova que ouvem a Ele e não qualquer outro Espírito, ou a si mesmos. Mártires e heróis foram guiados por visões, assim como loucos homicidas.

Não há uma solução simples. Nesse ponto, se nos dermos um tempo para examinar as Escrituras, a História e ouvir o que muitos chamam de Espírito-Santo-Em-Nós, é provável que tomemos boas decisões. Jesus, pelo menos, conhecia todas os três valores.

** Nós tendemos a ver a Igreja Primitiva ou Fundamental como algo puro, próxima de Jesus, algo ideal do qual estamos muito distantes. De fato, sempre houve essa imagem depreciatória da Igreja quanto a si mesma, e ela movimentou muitas revoluções internas. Mas a Igreja ideal, a igreja perfeita, é de fato ideal no sentido em que existe na idéia, no pensamento das pessoas. Jesus travou muitos embates “didáticos” com seus seguidores. Paulo, Pedro, Silas, Lucas, Barnabé, João e João Marcos estiveram envolvidos em milagres, mas não eram exatamente afinados quanto ao que punham em prática acerca da fé. A não ser pela força e violência, nunca houve tanta unidade assim dentro do Cristianismo, o que talvez revele que há muitas formas de proceder ainda dentro do que Jesus espera de nós.

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