terça-feira, 1 de novembro de 2011

A família de Jesus- ESTUDO BÍBLICO



Esse é um estudo que muitos devem conhecer dos nossos domingões de manhã. Estou colocando-o por escrito para que possa se espalhar. Trata-se de um estudo sobre valores familiares que podemos aprender da família onde Jesus cresceu.

Lc 2.1. Ora, todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa. E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.

A Páscoa é um dia especial para os judeus, a lembrança do dia em que foram tirados do Egito mediante o auxílio divino, segundo a promessa de Deus:

Ex 3.16. O SENHOR Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, me apareceu, dizendo: Certamente vos tenho visitado e visto o que vos é feito no Egito. Portanto eu disse: Far-vos-ei subir da aflição do Egito à terra do cananeu, do heteu, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu, a uma terra que mana leite e mel.

Jesus não veio ao mundo em uma família qualquer, mas uma que pudesse lhe ensinar bons valores e garantir que ele chegasse como alguém correto à idade adulta, quando se iniciaria Seu ministério. Não foi portanto preparada uma família qualquer, mas uma que seguisse os valores ensinados ao povo judeu. Eles participavam dos eventos cívicos do seu povo, iam junto ao povo para a festa de agradecimento ao Senhor. Essa vida em comunidade, hoje tão prejudicada principalmente nas cidades, cria valores fortes nas crianças e nos jovens. Fazer parte de um grupo ensina a dedicar-se ao grupo, e nesse caso trata-se de um grupo agradecido a Deus pelo que lhes fizera no passado.

Viajar em caravanas para Jerusalém significava abandonar o ofício, gastar as economia de uma família pobre para homenagear a Deus no Templo. Tal devoção é um exemplo para os jovens, incute valores na sua formação que não se apagam.

Lc 2.43-45. E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe. Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos; E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele.

Eis algo pouco explorado: um Jesus desobediente. Não temos indício algum sobre o motivo da permanência Dele na cidade, quando todo o seu grupo partiu. Jesus já havia atingido a maioridade segundo os costumes judeus, e portanto agora poderia participar das discussões dos adultos, poderia ser ouvido. Em uma de suas primeiras ações como adulto, ele deixa o grupo partir sem ele. Os pais, curiosamente, demoraram 1 dia a descobrir que seu filho estava sumido. Descuido? Pela atenção dirigida a Jesus em outras passagens, podemos supor que não.

Havia muita gente voltando de Jerusalém após a Páscoa. De certa forma, os pais de Jesus, inseridos naquele grupo, sabiam que seu filho seria cuidado onde quer que estivesse. Alguns de nós talvez tenham tido a oportunidade de participar de comunidades assim, onde as crianças realmente não têm uma única casa e passam muito tempo indo nas casas uns dos outros. Em todos os lugares, há quem cuide delas e quem lhes preste atenção. E, melhor ainda, elas são desde cedo ensinadas a conseguir o necessário para sua sobrevivência. Quando muito tempo se passou, Maria e José foram procurar o filho entre os parentes e conhecidos, onde ele provavelmente estaria. A preocupação da família realmente apareceu quando não o encontraram entre o seu grupo e voltaram a Jerusalém, de onde haviam partido.

Por um lado, os pais tinham a segurança de que Jesus estaria bem, mesmo longe dele. Por outro lado, isso é muito diferente de ter indiferença pelo filho.Faz parte do ofício dos pais cuidar de quem OS SUCEDERÁ. Quando Jesus demorou a aparecer, os pais foram à sua procura.

Lc 2.46-47. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.

Nenhum texto bíblico sugere que Jesus tivesse manifestado seu conhecimento da Lei quando criança, ou seja, que Ele possuísse um conhecimento inato dos profetas. Mesmo assim, Ele era capaz de discutir com os doutores da Lei, o que indicava sua erudição. Faz parte dos atributos da família ensinar valores aos filhos, instruí-los em costumes e saberes, e muito desse conhecimento Jesus teria aprendido com seus pais, que já haviam sido visitados por anjos ou em sonhos (Lc 1).

E quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos. E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai? E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.

Lc 2:41-51. E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas.

É interessante que, hoje, provavelmente uma mãe agiria com repreensão muito mais violenta com o filho, numa situação semelhante. Lucas não relata sequer uma palavra dita por José, mas relata Maria interrogando repreensivamente o filho. O jovem Jesus, ao invés de intimidar-se com a mãe aparecendo a sua procura 3 dias depois de verem-se pela última vez, confrontou ela com a pergunta “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”. Essa é uma frase chave nesse versículo, pois expõe a natureza divina de Jesus como sendo mais importante que as regras a que os homens (e especialmente os filhos) estão sujeitos. Ele viria mais tarde a confirmar esse ensino, confrontando o legalismo dos fariseus. Essa frase de Jesus também colocava em xeque a paternidade de José, o que talvez o tivesse machucado um tanto como homem. Apesar da referência de Jesus a sua paternidade divina, o trecho mostra um confronto bem humano de idéias, e também uma liberdade singular para que cada pessoa da família exponha suas razões pessoais, ao final do qual Jesus retorna com os pais a Nazaré. Apesar do confronto, o problema foi resolvido e houve submissão pacífica do filho aos pais.

A falta dessa liberdade de diálogo dentro da família é, muitas vezes, a causa de profundos conflitos e mágoas. Os filhos são ensinados a amar e tomar como exemplo os pais, dos quais muitas vezes conhecem pouco demais. Os pais não se justificam aos filhos, os filhos não acham que devem justificativa aos pais, e a família se torna uma casa habitada por pessoas estranhas umas às outras. Conflitos são inevitáveis, especialmente quando a situação de algum dos membros está mal definida (ex. adolescência: criança com obrigações ou adulto com responsabilidades?), mas é preciso que os embates sejam fonte de crescimento e começo de uma nova harmonia. Três fases críticas do desenvolvimento de uma pessoa são o fim da 1ª infância, quando a criança descobre como se comunicar; a adolescência, quando ela se descobre com habilidades de adulto e inserida numa sociedade; e a velhice, quando ela se vê incapacitada pela idade. Nessas três fases, o diálogo e o entendimento precisam ser reforçados, caso contrário as pessoas se afastarão da família.

No diálogo que Lucas narra entre Maria e Jesus, algo também é importante: há um ataque de Maria à ação de Jesus - ter deixado o grupo - mas não à sua pessoa. Muitas vezes, quando as pessoas se confrontam (e isso é freqüente) elas atacam a natureza ou a identidade umas das outras. A identidade dos homens pessoas não é responsabilidade humana, NEM DA PRÓPRIA PESSOA. Cuidar dessa identidade é obra do Senhor e, ao atacar a pessoa que Ele fez, atacamos Sua obra (Is 46). As pessoas fazem coisas erradas, e essa responsabilidade é delas. Podemos questionar, elogiar ou até atacar as ações de alguém, mas nunca sua identidade. Não podemos mudá-la e, fazendo isso, além de ofender o Criador de você e dela mesma, você lhe imputará uma culpa da qual ela mesma não poderá se livrar jamais.

Lc 2:52. E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.

Sabedoria, estatura e graça. Tratam-se dos aspectos intelectual (pois a Bíblia exalta o valor da sabedoria - ver Pv 8), físico (seu crescimento mostrava que Ele era saudável) e espiritual (ao crescer em graça, Jesus cada vez mais revelava aspectos de Deus em sua vida). Este tripé é necessário ao bom desenvolvimento de uma pessoas, sem excessos ou carência em nenhum dos lados.

A sabedoria foi o presente pedido a Deus por Salomão, e o próprio Deus elogiou essa escolha, pois ela levaria ao bom resultado de suas ações (1Rs 3).

Hoje, talvez nos seja de pouco valor pedir crescimento físico a Deus. Boa parte do mundo (ou pelo menos a maior parte que tem acesso a internet) tem um desenvolvimento saudável. No entanto, muita gente no passado (e também hoje, embora façamos o possível para não vê-los ou saber deles) vivia à margem da sobrevivência. Eles lutavam FISICAMENTE contra doenças (sem noções básicas de higiene e sem medicamentos eficientes) que iam de parasitoses a lepra e também contra a desnutrição*. Muitas vezes, e sem ignorar a realidade disso, as moléstias e a fome eram vistas com conseqüência do desrespeito aos Senhor. Assim, o bom desenvolvimento físico era o resultado de agradar a Deus.

O crescimento espiritual pressupõe aumentar a fé de um homem e realizar em sua vida o propósito que Deus (atenção: não a própria pessoa) tem para ele. Esse crescimento levaria Jesus, mais tarde, ao batismo, à tentação no deserto e ao ensino no meio do povo de uma sabedoria que mesclava os conhecimentos sociais dele mesmo e de sua natureza divina. As parábolas empregadas por Jesus (os próprios cristãos depois foram chamados de Parabolanos) refletiam esse conhecimento social, que lhe dava as ferramentas para ensinar ao povo humilde lições sobre o Reino de Deus. Quando esse conhecimento social falta aos cristãos, ficamos incapazes de nos comunicar adequadamente com as pessoas que queremos atingir. A sabedoria espiritual sobre o Reino precisa ser traduzida no modo de vida das pessoas, ou torna-se uma “videira sem frutos”. Esse é o tema do livro de Tiago.

Assim como Jesus crescia perante os homens, Ele crescia perante Deus. Isso reflete outra necessidade no modo de vida cristão: precisamos agradar a Deus primeiro e aos homens depois. Agradar apenas a Deus faz com que as pessoas não nos queiram como exemplo e levantem barreiras contra o que desejamos dizer a elas. Agradar apenas aos homens, por outro lado, nos coloca como servos de um mundo que não é o Reino de Deus. Os homens têm o mal na sua natureza e, se deixarmos, isso nos afastará do Senhor como dez com os judeus quando adoraram ao velho deus egípcio Apis assim que Moisés se separou deles, indo ao monte em busca da sabedoria divina. É preciso que sejamos agradáveis aos dois lados, pois Jesus orou pedindo ao Pai “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.15). Somos obreiros de Deus NO MUNDO, não fora dele.

-------------------------------------
* Na verdade, os textos que hoje estão na Bíblia continham muitas orientações de saúde e nutrição aos judeus, dadas como sabedoria pelo próprio Deus. Eu prepararei um material sobre isso, a ser postado futuramente. Aguarde. Agora é de verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário!